19 Jan
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Por Cristiano Calegari (Co-Fundador do RESISTA).

Quando um governante ou candidato fala em "dar uma vida decente" às pessoas, é melhor se certificar do que ele ou ela quer dizer com isso. Ter o que comer, simplesmente, significa ter uma vida decente? Isso é o bastante? Se você perguntar a uma grande parte dos brasileiros e brasileiras, a resposta será "sim".

Uma resposta como essa se explica pelo fato de que muitos lutam, dia a dia, pelo básico para sobreviver. Mas sobreviver não é viver. Dignidade não é somente ter um teto, comida na mesa e roupas para vestir.

Dignidade é você ter condições de ir ao cinema, ao teatro ou

 a outros eventos culturais no seu tempo livre.

Vários dos chamados "cidadãos de bem" reclamam dos bailes de favela na periferia de São Paulo. Contudo, será mesmo que eles aceitariam ver os periféricos sentados ao seu lado no Teatro Municipal, assistindo a uma ópera? Já foram dadas outras alternativas à periferia, em termos de cultura e lazer?

Em um primeiro momento, fiquei feliz com o tema da redação do ENEM 2019, "A Democratização do Acesso ao Cinema". Parece interessante falar de arte e cultura para quem busca uma vaga em universidades pelo país afora. Só que, pensando bem, aqueles que mais precisam dessa democratização foram exatamente os mais prejudicados pelo tema.

De fato, como alguém que nunca foi ao cinema pode falar sobre o assunto? Pode falar, talvez, sobre a falta de salas de cinema na cidade onde mora. Já quem mora em cidades maiores e sempre frequentou espaços culturais, larga na frente. E assim, mais uma vez, as desigualdades são reforçadas.

Todo mundo precisa de cultura. A arte nos leva a refletir sobre a vida cotidiana e incentiva a empatia ao nos colocar frente a frente com o outro.

Ao assistir a um filme, peça de teatro ou concerto, uma pessoa tem a oportunidade de se perceber na sociedade e se conscientizar de que está sendo, com frequência, oprimida ou explorada por um sistema. Isso, quem está no poder não quer, e não quer mesmo.

Não há como esperar alguma coisa de um mandato que não menciona uma única vez, em seu plano de governo, a palavra "cultura". No entanto, mesmo diante de um cenário desanimador, não podemos nos contentar com nada menos que a dignidade que é nossa por direito. Afinal, como disseram os Titãs, "a gente não quer só comida: a gente quer comida, diversão e arte".

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