28 Aug
28Aug

Por Bruno Ipaves

Meu celular despertou (CIÊNCIA), ainda estava meio escuro e liguei a luz (CIÊNCIA). Antes de pegar o meu notebook (CIÊNCIA), tomei um café da manhã com alimentos de boa qualidade e bem conservados (CIÊNCIA). Agora sim, liguei o notebook e entrei na internet (CIÊNCIA), comecei a ler notícias e navegar pelas redes sociais (CIÊNCIA). Enquanto estou escrevendo isso, vou lendo e assistindo vídeos (CIÊNCIA) de pessoas que estão usando a ciência para negar a ciência. 

Estamos em um momento preocupante, no qual ainda temos pessoas que acreditam na Terra plana, movimentos antivacinas (São Paulo registrou morte devido ao Sarampo e isso não acontecia desde 1997), teoria da conspiração para negar a mudanças climáticas e, mais recentemente, remédios mágicos para curar a covid-19 que são compartilhados por governantes que estão colocando a vida de pessoas em risco.

Portanto, é necessário a democratização do entendimento da ciência no mundo contemporâneo e, para isso, é fundamental a popularização da ciência e fortalecimento do ensino.

Minha ideia nesse texto é passar algumas informações sobre a ciência no Brasil e estimular você, que está lendo isso, a entrar para o mundo da divulgação científica (nunca te pedi nada). Em 2019 o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em parceria com Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizaram a pesquisa sobre "Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil". Dentre os diversos resultados apresentados, a pesquisa mostrou que 73% dos entrevistados acham que Ciência e Tecnologia (C&T) trazem só benefícios ou mais benefícios que malefícios para a sociedade, além de mostrar também que a população, em geral, tem muita confiança nos cientistas e que 66% das pessoas declaram querer aumentos dos investimentos em pesquisa. 

No entanto, embora 61% dos entrevistados estejam interessados ou muito interessados em C&T, é extremamente preocupante que 90% dos brasileiros não se lembram ou não sabem apontar um cientista do país e 88% não se lembram ou não sabem indicar uma instituição que faz pesquisa no Brasil. Nem mesmo as universidades públicas, que segundo a Clarivate Analytics são responsáveis por mais de 95% das pesquisas no país, foram muito citadas. 

Eu não ficaria surpreso se muitas informações até aqui fossem novidades para você. A maior parte da Ciência no país é feita pelos alunos de pós graduação de universidades públicas. 

Não se faz pesquisa sem mestrando, doutorando e pós doutorando, ou seja, esses cientistas são extremamente importantes para o desenvolvimento do país. São eles que vão, por exemplo, fazer as vacinas, as novas tecnologias, contribuir para elaboração de políticas públicas… e, para desenvolver essas pesquisas, eles recebem “bolsas”. Coloquei “bolsas” entre aspas, pois esse é o salário do pós graduando e, na maioria das vezes, é a única fonte de renda. 

O salário de um mestrando é de R$ 1500 reais/mês para um contrato de 2 anos e do doutorando é R$ 2200 reais/mês para um contrato de 4 anos (valores CAPES/CNPq que não são reajustados desde 2013), mas não existe nenhum direito trabalhista (13º salário, férias…). Falando em bolsa, você sabia que o nosso Instituto de Física da USP teve uma redução de uns 85% das bolsas? Nossas bolsas foram praticamente zeradas, pelo atual governo, para o segundo semestre de 2020.

Esses resultados mostram a importância do investimento em divulgação científica e de como é necessário aproximar a comunidade científica do restante da sociedade. Portanto, precisamos aumentar a colaboração entre pesquisadores, divulgadores científicos e jornalistas nas diversas mídias. Quando foi a última vez que você, pesquisador, falou sobre ciência com alguém que não é da sua área?


Artigo publicado originalmente na Revista SUPERNOVA do CEFISMA-IFUSP.

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